sábado, 27 de janeiro de 2024

O trabalho do escritor

    O novo capítulo de A Jornada do Escritor apresenta um passeio pelos intricados territórios da escrita, literatura e expressão artística. A exploração desses temas culminou em uma reflexão abrangente e significativa sobre a natureza e o propósito da criação literária.

    O primeiro ponto abordado foi a concepção da escrita como uma travessia, uma jornada que transcende as fronteiras convencionais. A metáfora da travessia engloba não apenas a exploração de geografias imaginárias, mas também a corajosa incursão nos limites da linguagem e das convenções literárias. O escritor, nesse contexto, emerge como um aventureiro destemido, comprometido em cruzar horizontes e enfrentar desafios intelectuais.

    O segundo aspecto destacou o escritor como um provocador, alguém que desafia normas e expectativas preestabelecidas. Essa provocação se manifesta na escolha cuidadosa da linguagem, na exploração da identidade e na manipulação criativa da realidade. A relação complexa entre autor e leitor também foi enfatizada, ressaltando que uma obra literária transcende a mera transmissão de informações, transformando-se em um diálogo dinâmico no qual o leitor contribui ativamente para a interpretação e cocriação da narrativa.

    Outro ponto crucial foi a exploração das complexidades da identidade, especialmente no contexto do escritor homem gay. Esta discussão mergulhou nos desafios inerentes à representação autêntica, na tensão entre autenticidade e expectativas sociais, e na necessidade premente de quebrar estereótipos arraigados.

    A interconexão entre realidade, ficção e fantasia foi investigada como parte integrante da escrita. A literatura foi percebida como uma reinvenção da realidade, onde a linguagem desafia limites convencionais, criando experiências literárias que transcendem o ordinário.

    Embora não tenha sido formalmente estabelecido uma teoria, A Jornada do Escritor de modo geral aborda temas recorrentes que poderiam constituir a base de um conceito mais abrangente. Estes incluíram a relação entre escritor e linguagem, a dinâmica entre realidade e ficção, a importância da experiência do leitor, a interação entre identidade e expressão literária, e a natureza fluida da linguagem na construção de significado.

    Em resumo, esse novo capítulo revela-se uma imersão nas profundezas da escrita, não apenas abordando a técnica literária, mas também explorando as implicações emocionais, sociais e culturais intrínsecas à criação e interpretação da arte literária. Ao transcender as fronteiras convencionais, a reflexão proposta proporciona uma compreensão enriquecedora das diversas dimensões que permeiam o universo literário.

A construção do desejo gay

    Olhando para nós mesmos, bem sabemos que o desejo humano é uma força poderosa, o qual desempenha um papel central em nossas vidas, porém, o desejo não é uma experiência homogênea e a sua construção e expressão variam significativamente entre indivíduos e grupos. Neste blog, quero explicitar a construção do desejo gay, analisando os homens gays como seres desejantes, as questões que os impulsionam a desejar mais a cada dia e como a sociedade contribui para o ajustamento dessa experiência.

    O desejo é uma força que move os seres humanos a buscar vínculos emocionais e físicos. Assim como para qualquer pessoa, o desejo é uma parte fundamental da identidade e experiência de um homem gay e a sua construção é influenciada por uma variedade de fatores biológicos, sociais e culturais.

    No âmbito da biologia, a interpretação e condução da sexualidade acontece sob a influência de fatores genéticos e hormonais. Assim, a atração de um homem gay por outros homens é também um fato biológico. Nossos corpos são pré-dispostos ao prazer por meio da genética, ou seja, há lugares de sensibilidade que funcionam também como áreas de prazer. Além disso, há a ação hormonal, assim como acontece com todo humano, os homens gays estão inclinados a atração sexual, no caso, por outros homens.

    No âmbito social, a construção do desejo gay é influenciada pela forma como um homem se identifica em relação a interpretação e condução da sua sexualidade dentro da sociedade em que está inserido. A compreensão da própria identidade e a inclusão na comunidade LGBTQIA+ desempenham um papel importante na expressão do desejo.

    Vale lembrar que o estigma e a discriminação são comumente presentes nas vivências de homens gays, o que pode intensificar seu desejo por aceitação e pertencimento. A busca por afinidades e intimidade é, em parte, uma resposta a esses desafios.

    Nesse sentido, o processo de descoberta e aceitação da própria sexualidade frequentemente leva os homens gays a explorar a sua identidade e o seu desejo de maneira mais intensa. Isso pode resultar em um desejo crescente de compreender e expressar a sua sexualidade. A comunidade LGBTQIA+ é diversificada e os homens gays podem ser atraídos por diferentes tipos de pessoas. Essa diversidade na comunidade também contribui para uma ampla gama de experiências de desejo.

    Além disso, a representação de relacionamentos e desejos gays na mídia e na cultura desempenha um papel importante na normalização do desejo gay. Isso pode ajudar a reduzir o estigma e criar um ambiente mais acolhedor para a expressão do desejo. Outros fatores importantes são as conquistas legais, como o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a igualdade de direitos, o que contribuem para a construção de um ambiente onde os homens gays podem expressar seu desejo de maneira mais aberta e sem medo de perseguição.

    O desejo gay é uma parte indissociável da experiência humana e é construído por uma interação complexa de fatores biológicos, sociais e culturais. Os homens gays, como qualquer outra pessoa, são seres desejantes que buscam vínculos significativos e o processo de construção do desejo é influenciado por questões como estigma, discriminação e exploração vigiada da própria identidade. À medida que a sociedade evolui em direção à aceitação e igualdade, a expressão do desejo gay é mais livre e autêntica, permitindo que os homens gays vivam suas vidas de maneira plena e satisfeita.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Afetos, dores e amores

    Este blog, certamente, vai dar muito trabalho para ser escrito, porque as relações entre homens gays são bem complexas por inúmeros fatores. Bom, vou começar tratando da compreensão sobre o conceito de afeto e, para isso, um pouco da etimologia da palavra “afeto” vai nos ajudar.

    O termo afeto tem origem no latim AFFECTUS, um dos seus sentidos é “disposto, inclinado a, constituído”, atribuindo isso a nós, conseguimos perceber que há coisas que nos compõe e da mesma maneira nos dispõe. Sabe quando passamos a infância inteira em um lar acolhedor, amoroso, nesse tempo recebemos carinho, atenção. Isso no constitui e, por isso, estamos dispostos a fazer o mesmo pelos outros.

    Além disso, o termo afeto é a forma do particípio passado de AFFICERE, “fazer algo a alguém, usar, manejar, influir sobre”. Todas as experiências da nossa vida de alguma forma funcionam como um tipo de fator capaz de alterar nossa cognição (inteligência) e isso determina como nos relacionamos com o nosso eu, com os outros e com os ambientes de trabalho, de lazer, de educação etc. A partir disso, é preciso dizer que somos afetados constantemente em nossas relações com o outro e com o mundo e isso nos deixam marcas, às vezes dolorosas, às vezes, de amor.

    Tendo esclarecidos esses conceitos como ponto de partida, agora vamos aplicá-los à análise de relacionamentos afetivos e eróticos entre homens gays. Muitos estereótipos e preconceitos ainda persistem, contudo, é fundamental reconhecer a diversidade e a riqueza dessas relações. Neste momento, pretendo explorar a complexidade desses afetos, as dores que podem surgir e os amores que florescem nesse cenário.

    Desde quando saímos da barriga da nossa mãe, passamos a perceber o mundo de alguma forma e isso vai nos constituindo ao longo dos nossos vários anos de vida. No centro desse processo estão as nossas relações. Todas elas nos marcam e nos alteram de algum modo: cognitivamente, culturalmente, fisiologicamente de modo geral, que por sua vez, determinam nossas relações. Veja estamos falando de um encadeamento que reúne várias memórias de nossas vivências: circunstâncias de alegrias, encontros com amigos e familiares, trocas de carinhos, acolhimentos, aconchegos, mas também momentos de tristezas, vivência de exclusão, agressões, xingamentos, constrangimentos e por aí vai.


Os afetos além dos rótulos


    A sexualidade sozinha não define a capacidade de um indivíduo amar, desejar e criar vínculos afetivos. Os relacionamentos entre homens gays, como qualquer relação, são baseados em emoções profundas e conexões genuínas. Os afetos que surgem nesses relacionamentos são tão reais e valiosos quanto em qualquer outra dinâmica.

    É importante destacar que a comunidade LGBTQIA+ é diversa e cada indivíduo é único em suas experiências. Lembrando que estou tratando especialmente dos relacionamentos gays, os quais podem variar amplamente também, desde os casais monogâmicos tradicionais até as relações não-monogâmicas, abertas ou livres. A diversidade de experiências não deve ser ignorada, pois é uma parte fundamental da riqueza das relações entre homens gays.


As dores: enfrentando preconceitos e estigmas


    Apesar dos avanços na inclusão da comunidade LGBTQIA+ em muitas partes do mundo, os homens gays ainda enfrentam desafios significativos em seus relacionamentos. O estigma social, a homofobia e a discriminação podem gerar dores profundas. Muitos enfrentam a ansiedade de serem julgados e o medo de dar clareza a sua sexualidade no ambiente escolar, de trabalho, de lazer, de religiosidade, vivendo constantemente a dissimulação de comportamentos, opiniões, evitando a manifestação pública de carinho, evitando a livre expressão de seu gênero de modo geral.

    A sociedade - androcêntrica, machista, patriarcal - impõe normas e expectativas que, muitas vezes, restringem a livre expressão da identidade de gênero e orientação sexual de um homem gay. Em ambientes escolares, por exemplo, a pressão para se conformar aos padrões heteronormativos pode resultar em um ambiente hostil para aqueles que fogem a essas normas. A ansiedade de serem julgados e o medo de represálias podem forçar jovens a esconderem sua verdadeira identidade, levando a uma vivência constante de dissimulação.

    No mundo profissional, a dissimulação muitas vezes é uma estratégia adotada para evitar discriminação e preconceito. Homens gays podem sentir a necessidade de ocultar sua sexualidade ou identidade de gênero para garantir a aceitação e progresso em suas carreiras. No entanto, essa dissimulação pode ter um custo emocional significativo, levando a problemas no âmbito das emoções, como ansiedade e depressão.

    Mesmo em contextos de lazer e religiosos, a dissimulação pode se tornar uma parte intrínseca da vida de homens gays. A preocupação com a aceitação social pode impedir a manifestação autêntica de sua identidade em eventos sociais, encontros familiares e práticas religiosas. A dualidade entre a livre expressão de identidade e a persona pública pode criar um conflito interno constante.

    Aqui vale relacionar com o que eu já havia dito em outro momento, homens gays são impelidos a “se passar por hétero”, se enquadrar em tipos já preestabelecidos de relações, tipos esses hétero-centrados, normatizados pelo costume.

    A heteronormatividade é um conceito que descreve a suposição de que a heterossexualidade é a norma, enquanto outras sexualidades são vistas como desvios dessa norma. Esse paradigma social cria expectativas rígidas e, muitas vezes, irreais em torno do que é considerado aceitável em termos de relacionamentos e identidade de gênero. Homens gays, muitas vezes, se encontram pressionados a adotar comportamentos e relacionamentos que se assemelham aos padrões heterossexuais, a fim de se sentirem aceitos e integrados na sociedade.

    A pressão para "se passar por hétero" pode originar-se de várias fontes, incluindo familiares, amigos, colegas de trabalho e até mesmo do próprio indivíduo. O medo da rejeição e do estigma social pode levar alguns homens gays a cercear a sua livre expressão de identidade, adotando comportamentos e relações que mascaram sua orientação sexual. Esse fenômeno pode ser particularmente acentuado em comunidades onde as expectativas tradicionais de gênero são fortemente enraizadas, como cidades do interior, como famílias conservadoras, como grupos de amigos machistas.

    Essa adoção de uma fachada heterossexual, esse conflito interno entre a necessidade de autenticidade e o desejo de pertencimento social, essa negação da própria identidade pode ter profundas marcas no âmbito das emoções e dos relacionamentos para os homens gays, resultando negativamente em relacionamentos íntimos fragilizados, inseguros, superficiais, inconstantes e na produção de um indivíduo com baixa autoestima.

    Além disso, os relacionamentos gays podem ser impactados por questões específicas, como a pressão para atender a padrões de beleza inatingíveis ou as dificuldades que podem surgir ao lidar com a negação de familiares ou amigos. Essas dores, no entanto, não obscurecem a realidade de que o amor e a conexão são possíveis e significativos entre homens gays. Além disso, é crucial desafiar ativamente os estereótipos que limitam a expressão da sexualidade. A promoção da aceitação incondicional e da diversidade é um passo fundamental para criar uma sociedade mais inclusiva e respeitosa. Os esforços para desconstruir a heteronormatividade devem vir de todas as esferas da sociedade, incluindo educação, mídia e políticas públicas.


Os amores: celebrando os vínculos autênticos


    Os relacionamentos afetivos e eróticos entre homens gays, como qualquer outro, são cheios de amor, paixão e apoio mútuo. Muitas vezes, eles desafiam as normas de gênero tradicionais, permitindo que os parceiros expressem a sua afetividade de maneira única e sincera. Os casais gays e as suas variações, podem se apoiar em suas jornadas de autodescoberta, oferecendo compreensão e aceitação incondicional.

    Além disso, a comunidade LGBTQIA+ politicamente unida pode oferece uma rede de apoio fundamental. A solidariedade e a compreensão compartilhadas entre aqueles que compartilham experiências semelhantes fortalecem os relacionamentos e ajudam a enfrentar os desafios que surgem ao longo do caminho.


É preciso promover a inclusão e a paz


    Os relacionamentos afetivos e eróticos entre homens gays fazem parte da diversidade humana e devem ser celebrados e respeitados como tal. É essencial promover a inclusão, a igualdade e a paz, independentemente de qual seja a abordagem pessoal da sexualidade. Ao reconhecer a complexidade desses relacionamentos, podemos trabalhar para superar preconceitos e estigmas e criar um mundo mais inclusivo e amoroso para todos.

    É fundamental lembrar que, no final das contas, o amor e os afetos entre pessoas, independentemente da interpretação e condução da sua sexualidade, são o que há de mais humano e valioso. À medida que continuamos a progredir em direção a sociedades mais inclusivas e justas, devemos celebrar a diversidade de relacionamentos e amores que enriquecem nossas vidas e promovem a paz.

sábado, 20 de janeiro de 2024

Um corpo gay

    Quando você vê a tua mãe e conversa com ela, você não vê um saco de pele, carne e ossos que fala, você vê uma pessoa importante para você que tem um nome, uma história, um vínculo afetivo, que se emociona, sente, que se articula para conviver com você e com as outras pessoas. Da mesma forma, quando você vai visitar uma amiga, ela tem um significado para você, ela existe para você e para todo mundo por meio do corpo dela. Quando você está na rua e vê inúmeras pessoas transitando, não são corpos estritamente biológicos, são corpos com inúmeros significados para você: um corpo tatuado pode significar para você que é uma pessoa descolada, um corpo coberto com uma blusinha fechada e uma saia cumprida até os tornozelos pode significar para você que é uma pessoa evangélica, um homem grande, robusto e de terno preto pode significar para você que é um segurança.

    O corpo não é apenas um fato biológico, ele é também o efeito de uma construção sociocultural. No sentido biológico, nascemos com uma estrutura e organização pré-determinada por uma dada genética que está vinculada aos nossos antecedentes, mas é inserido em uma cultura que o corpo inteiro e cada parte dele ganha sentido.

    Diante disso, um corpo gay é gay, porque ele é concebido dentro de um universo cultural próprio. Esse universo é dotado de características que designam ao corpo um tipo de comportamento, de vestimentas, de estética, de atitudes, de se comunicar, enfim, de gênero.

    Quando um menino é afeminado logo dizem que ele é gay. Olha só que interessante, as pessoas atribuem a uma criança um significado por causa do jeito que ela gesticula e movimenta o seu corpo. Espera-se de um homem negro que ele seja dotado e ativo, justamente por causa do sentido que se atribuiu ao corpo do homem negro em nossa cultura colonial (racista, sexista, objetificadora). Outra situação, se um homem rebola, é gay. Se um homem tem pinta de agroboy, skatista, lutador, jogador de futebol, ele não é pensado objetivamente como um corpo gay.

    Sobre esses tipos existem signos que os marcam como tal: barba, formato anatômico, roupas, tatuagens, trejeitos, atitudes, comportamentos, gostos, cor do cabelo e tamanho e corte, ou seja, a sua visualidade (e a visualidade acaba correspondendo a imagem da identidade da pessoa).

    Partindo dessas considerações, vamos pensar o corpo gay. Assim, como qualquer outro corpo, ele é produzido. Sim, ele representa todos os efeitos da sua existência nos contextos em que se realiza. Homens gays produzem seus corpos para se inserirem em grupos, para viver experiências, para fazer a manutenção da sua saúde e bem-estar, para atrair desejos, para conquistar afetos, para fazer negócios, para obter privilégios, para manifestar etnia, para exercer poder.

    Por isso, conseguimos observar circulando pela sociedade corpos mais próximos a um tipo padrão: barba, cabelo curto, músculos definidos, trejeitos mais robustos. Ou corpos que fogem ao padrão: gordos, magros, corpos vestidos com roupas do universo atribuído ao feminino, maquiagem, brincos, colares, sapatos de salto alto.

    É importante ressaltar que os corpos gays são diversos e passam por processos diferentes de construção. Muitos homens gays produzem corpos musculosos frequentando academias e usando anabolizantes, alguns corpos passam por procedimentos estéticos, cirurgias plásticas, massagens modeladoras, clareamento dental, aparelhos ortodônticos, terapias variadas à base de tecnologias e produtos farmacológicos, outros são tatuados, maquiados, furados com piercings e por aí vai. Eu vou atribuir nomes a esses processos a fim de ilustrá-los.

    Corpos instragramáveis produzidos para ficar apresentáveis em imagens, principalmente, em fotos. Corpos baladeiros produzidos para aguentar muitas horas de festas sem deixar a animação cair, inclusive com o uso de drogas recreativas. Corpos fashionistas produzidos para ostentar tendências e marcas. Corpos padrão e fora do padrão produzidos para marcar diferenças. Corpos marginais e marginalizados produzidos para fazer a manutenção de territórios sociais das cidades. Corpo como status social para garantir privilégios dentro de grupos. Corpo mercadoria para o mercado do sexo. Corpo idolatria produzidos para o lugar do desejo.

    Todos esses corpos carregam sobre si signos: silhuetas, musculatura aparente ou não, vestimentas, tatuagens, maquiagens, alterações plásticas, trejeitos, atitudes, comportamentos, cor da pele, tamanho e corte do cabelo, barba, bigode, pelos ou não. Estes signos aproximam ou distanciam corpos a um tipo padrão ou outros tipos mais incomuns ou marginalizados.

    Além disso, para o homem gay mostrar o corpo ou esconder o corpo tem finalidades diferentes, ora tem a ver com conseguir privilégios, ora tem a ver com evitar violências. Vale dizer também que o corpo é prazer e controle. Por fim, não vou me estender mais até porque nos próximos blogs eu exploro com mais detalhes estas últimas questões.

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Se passar por hétero

    Homens gays em algum momento ou constantemente tem que “se passar” por hétero. Aí você me pergunta: o que é “se passar” por hétero? É assim, as pessoas de modo geral têm uma expectativa de comportamento e/ou uma ideia comum do que é um homem hétero, então quando um homem gay corresponde a essa expectativa ou se parece com essa ideia comum de homem hétero, ele “se passa” por hétero. Isso é confuso, contraditório e para muitos não faz sentido, porém, talvez não seja tanto assim. Vamos falar sobre isso!

    No capítulo anterior, eu escrevi sobre os modelos de masculinidades, lá eu falei que há um modelo mais comum de masculinidade, o qual se estabeleceu como o padrão-normativo, é uma referência explícita e recomendada para todos os homens. A maior parte dos homens tem características comuns entre eles: pelos pelo corpo, corpos fortes, trejeitos robustos, rejeitam comportamentos que expressam sensibilidade, delicadeza, fragilidade, buscam mostrar frequentemente uma personalidade ativa, cheia de vigor e potência sexual (predação sexual). Esse modelo masculino é atribuído ao homem hétero, por isso qualquer homem que tenha essas características é visto como homem hétero, mesmo ele sendo um homem gay. Certamente, muitos de nós, homens gays, já ouvimos aquela tenebrosa frase: “mas, você não parece gay”. As pessoas dizem isso justamente, porque tem em mente esse modelo de masculinidade heterocentrado.

    Vale dizer que não existe uma masculinidade natural para homens héteros e uma para homens gays, como eu disse na anteriormente, existem modelos plurais. Logo, pode haver homens héteros delicados, sensíveis, com estruturas corporais diversas, com pelos aparados e sem barba e outras características que geralmente não são atribuídas aos homens héteros. Ele vai continuar sendo hétero. A mesma coisa acontece com homens gays. Não é porque o homem expressa sensibilidade, delicadeza, fragilidade, gosta de elementos do universo atribuído ao feminino que ele é gay.

    Diante disso, vamos retomar o assunto, muitos homens gays em certas ocasiões assumem rigorosamente as características de masculinidade de um modelo heterocentrado para não sofrer com chacotas, exclusão de grupos, agressão física, enfim, variados tipos de violências. Muitos homens gays “se passam” por hétero para poder serem aceitos por suas famílias, para poder fazer parte de um grupo de amigos, para se relacionar com os colegas de trabalho, para obter relações cordiais e afetuosas. Muitos homens gays “se passam” por hétero para ser desejados, pois o modelo heterocentrado é o mais desejado.

    Exemplos: na escola, às vezes, mesmo não querendo, meninos praticam esportes como o futebol para não sofrerem represálias por parte dos outros meninos. Na família, às vezes, meninos e homens não fazem o serviço doméstico para não serem repreendidos. Na balada, às vezes, homens mais parecidos com o modelo padrão heterocentrado tem preferência no flerte.

    Frequentemente muitos homens gays invisibilizam a sua identidade gay por causa das constantes violências a que estão expostos. “Se passar” por hétero é se proteger, se preservar e obter privilégios.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Ser homem masculino

Ser um homem feminino
Não fere o meu lado masculino
Se Deus é menina e menino
Sou Masculino e Feminino...

Olhei tudo que aprendi
E um belo dia eu vi...

Que ser um homem feminino
Não fere o meu lado masculino
Se Deus é menina e menino
Sou Masculino e Feminino...

Olhei tudo que aprendi
E um belo dia eu vi
Uh! Uh! Uh! Uh...

E vem de lá!
O meu sentimento de ser
E vem de lá!
O meu sentimento de ser
Meu coração!
Mensageiro vem me dizer
Meu coração!
Mensageiro vem me dizer...

Salve, salve a alegria
A pureza e a fantasia
Salve, salve a alegria
A pureza e a fantasia...

Olhei tudo que aprendi
E um belo dia eu vi
Uh! Uh! Uh! Uh...

Que ser um homem feminino
Não fere o meu lado masculino
Se Deus é menina e menino
Sou Masculino e Feminino...

Vou assim todo o tempo
Vivendo e aprendendo
Ôu!...

E vem de lá!
O meu sentimento de ser
E vem de lá!
o meu sentimento de ser
Meu coração!
Mensageiro vem me dizer
Meu coração!
Mensageiro vem me dizer
Ôu! Ôu! Uh!...

Composição: Baby Consuelo / Didi Gomes / Pepeu Gomes.

    O título desta seção é um trocadilho proposital com um dos versos da música de Pepeu Gomes – Masculino e Feminino cuja letra parece abordar a ideia da dualidade de gênero e a aceitação da diversidade dentro do espectro de masculinidade e feminilidade.
    A letra destaca a ideia de que ser um homem feminino não prejudica a masculinidade, sugerindo uma aceitação da diversidade de expressões de gênero. A referência a Deus como "menina e menino" pode ser interpretada como uma maneira de transcender as categorias tradicionais de gênero.
    O verso "Olhei tudo que aprendi e um belo dia eu vi" sugere um processo de autorreflexão e aceitação pessoal. Pode indicar uma jornada de descoberta e compreensão de si mesmo, incluindo a aceitação de características tanto masculinas quanto femininas.
    A expressão "Vou assim todo o tempo, vivendo e aprendendo" parece transmitir a ideia de viver autenticamente, sem se preocupar com as expectativas tradicionais de gênero. Isso ressalta a liberdade de ser verdadeiro consigo mesmo, independentemente das normas sociais.
    A referência a Deus como "menina e menino" pode ter conotações espirituais, sugerindo uma visão mais inclusiva e holística da divindade, que não está restrita a rótulos de gênero.
    O refrão "Salve, salve a alegria, a pureza e a fantasia" pode ser interpretado como uma celebração da diversidade, da alegria e da inocência que vêm com a aceitação da verdadeira natureza de cada indivíduo.
    A referência ao coração como mensageiro pode simbolizar a importância de seguir os sentimentos internos e ser fiel a si mesmo, independentemente das expectativas externas.
    A música parece transmitir uma mensagem de aceitação, celebração da diversidade e liberdade para ser autêntico. A combinação de elementos espirituais, autoaceitação e celebração da alegria contribui para uma mensagem positiva e inclusiva.
    Partindo dessa reflexão permitida pela letra da música de Pepeu Gomes e olhando para o decurso da história, percebemos que a masculinidade assumiu uma forma pouco variável em sociedades euro-ocidentais controladas pela religião e pelo Estado, com características determinadas pela força impositiva da cultura machista-patriarcal, no entanto, com os debates sobre gênero e sexualidade promovidos por movimentos sociais, ela deixa de ser concebida como um tipo único e passa pelo processo do seu reconhecimento na diversidade cultural.
    

O machismo e o patriarcado como força impositiva


    O machismo e o patriarcado usando de sua dominância impõe um padrão de comportamento para o ser masculino. Dessa maneira, a ideia de masculinidade sempre esteve atrelada a condições instituídas arbitrariamente e, além disso, concomitantemente, cerceando qualquer outro modo de praticá-la.

O estereótipo de homem imposto


    Diante disso, o estereótipo de homem, originado na cultura machista-patriarcal, tem que ser, compulsoriamente, forte, insensível, indelicado, não criativo, agressivo, provedor, dominador, não ser afeito à sentimentalismos, ligado ao trabalho braçal, ter espaço de fala garantido de qualquer jeito e superior aos outros gêneros. O contrário disso é considerado um desvio, um desvalor e muitas vezes deslocado para o que foi pré-definido como feminino.

A resistência


    Esse ideal machista encontrou grupos de resistência que não se sujeitaram e, além disso, propuseram o debate desse modelo opressor. Merece grande destaque nesse processo, o movimento feminista, pois, no decorrer das suas lutas históricas, ocupa seu espaço social de direito, propõe a reconstrução da organização familiar e social, promove o acesso primordial à educação e ao mercado de trabalho, garantindo espaço para ressignificar as identidades gênero, acolhê-las e reconhecê-las. Até, por isso, no meu ponto de vista, só é possível pensar as masculinidades como desdobramento das lutas identitárias do feminismo.

A ruptura


    Quanto mais o tempo passa e as discussões se alastram, as masculinidades rompem com a referência masculina hétero-normativa “cisgênero” – concebida e configurada historicamente numa cultura machista e patriarcal - e passa a existir na diversidade, pluralizando as características do ser masculino. Nesse sentido, o homem pode, sim, ser da forma que quiser ser. Ser homem hétero, ser homem gay, ser homem transgênero, ser homem assexual, ser homem crossdresser, enfim, cabe todas as formas de ser homem.
    Sua existência passa a ter um sentido fluído, coerente e global que nas relações se descobre e se formata. Assim sendo, o homem pode chorar, usar saia, gostar de dançar, cuidar da sua beleza, tocar, abraçar, dar afeto aos outros homens, entre outras atitudes e características sem que seja considerado uma deformação.
    Contemporaneamente, a identidade masculina se apropria da liberdade de ser, abandonando o peso do modelo antes imposto que era ser homem e todo o cuidado para não ser um desvio. Conquista para si o direito de existir na diversidade. Um direito fundamental!

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Ser homem gay

    Repare uma coisa. Cada pessoa que você conhece tem características visíveis e não visíveis, as quais te faz reconhecê-la como sendo uma pessoa única, no entanto, você consegue reconhecer semelhanças dessa pessoa com outras pessoas e seus lugares. Veja bem, estou falando de identidade, estou falando de ser, cujo significado de acordo com o Dicionário Online de Português tem a ver com particularidade, capacidade, condição ou determinada circunstância. A visualidade da nossa identidade é nossa imagem, resultado de nossas relações com o mundo, com os outros e com a gente mesmo e aquilo que não é visível passa pelo mesmo processo. Isso acontece com todo mundo. Nossas identidades são forjadas no dia a dia de nossas relações desde quando nascemos. Bom, vou focar nas identidades gays, por isso, para começo de assunto, vamos pensar um pouco acerca da questão: o que é ser gay?

    Não vou usar o termo homossexual, porque a homossexualidade é uma categoria criada para diferenciar e controlar homens e mulheres fora de um padrão imposto de sexualidade. Mais para frente prometo discutir esse tópico em uma publicação específica sobre o tema. Eu vou usar o termo gay, justamente, porque acho que ele representa maior amplitude para se imaginar a figura de homens fora do padrão heterocentrado.

    Tendo isso em mente, vamos compreender o que significa de modo geral o termo, segundo explica o site Etimologia, a palavra gay é identificada “como um empréstimo do inglês, generalizando-se para indicar o indivíduo homossexual a partir de seu comportamento jovial e leve, cuja referência se distingue no francês gai, entendido como aquele que expressa um caráter alegre, associado ao alto alemão gāhi, indicando um estado de surpresa repentina, refletindo-se no espanhol antigo como gaio, no catalão gai, no italiano gaio e no espanhol gay, emergindo em todos os casos sobre uma possível raiz no occitano a partir das formas gai, jai, por alegre . A relação do termo gay com a homossexualidade remonta ao início do século XX nos Estados Unidos, lembrando que a primeira manifestação do Orgulho Gay ocorreu em junho de 1970, em Nova York”. Além disso, modernamente, atribuímos o termo gay mais aos homens.

    Partindo disso, posso dizer que há um leque de diferentes tonalidades para ser um homem gay, porque me parece que a centralidade da identidade gay é ser alegre, é se distinguir do comportamento comum aos outros homens, é fugir de uma atitude socialmente controlada. É importante dizer que em tempos anteriores, bem antes do uso do termo gay, os homens gays eram chamados de outros nomes, inclusive, de homens alegres. Enfim, me parece que a alegria na verdade está relacionada ao jeito de homens gays se comportarem, falarem, encararem a vida que se mostrava diferente da maneira de outros homens.

    Além desse sentido, existem outros atribuídos ao termo que foram se estabelecendo ao longo dos anos. Sempre me incomodei com esta coisa de pessoas, amigos, familiares falarem: “Ah! Mas você não é homem. Você é gay.” Na minha cabeça, eu pensava: “Espera! Eu sou homem que gosta de homem”, ser gay é ser homem, uma coisa não exclui a outra. Aí eu pergunto: quais são os sentidos sociais presentes nessa declaração? Com o tempo eu fui tendo contato com leituras, filmes, pessoas que me ajudaram a elaborar isso na minha cabeça. É uma declaração frequente na boca de homens e mulheres do nosso convívio diário, então é um discurso já incorporado, se tornou uma “verdade”.

    Quando alguém diz “você não é homem”, este alguém está negando a humanidade e todos os direitos que um homem gay tem sobre essa humanidade comum entre os homens, pactuada por meio da masculinidade e, quando diz “você é gay”, está coisificando a pessoa, reforçando o caráter inumano e colocando-a numa posição de objeto. E qual é o tratamento que se dá aos objetos? Objeto tem valor utilitário. Você usa para determinado fim, mas não precisando mais, você o desconsidera.

    Dito isso, vamos aos modelos de masculinidades gays. Vou começar com o modelo de masculinidade mais conhecido, mais usual, mais privilegiado, mais valorizado, mais desejado, ou seja, o hegemônico. (significado de hegemônico). Não sou eu que estou conferindo toda essas honrarias a este modelo, foi a sociedade que fez isso com o passar do tempo. O modelo hegemônico se estabeleceu como o padrão-normativo, é uma referência explícita e recomendada para todos os homens. Observe que a maioria dos homens tem pelos pelo corpo, valorizam o corpo forte, trejeitos robustos, rejeitam comportamentos que expressam sensibilidade, delicadeza, fragilidade, buscam mostrar frequentemente uma personalidade ativa, cheia de vigor e potência sexual (predação sexual).

    Os homens gays mais próximos dessas características são considerados mais masculinos e, quanto mais um homem gay se distância disso, mais ele vai perdendo valor em masculinidade e vai sendo desviado para o feminino. Logo, quanto mais parecido com o padrão, mais homem, quanto mais distante do padrão, menos homem.

    Veja bem, não estou falando de certo e errado, estou falando de construções socioculturais que deram origem a uma referência “natural” para os homens (na verdade, se naturalizou). Só que não existe um modelo natural, não existe um modelo de masculinidade feito pela natureza, não existe nenhum órgão do corpo humano que produza a masculinidade, nenhuma substância do organismo é capaz de fazer isso. A masculinidade não se centra no pênis e o pênis sozinho não determina a condição de ser homem, por essa razão encontramos por aí formatos plurais de masculinidades. Exemplo: homens héteros com pênis amputado por motivo de doença. Ou homens trans.

    É importante destacar as identidades gays nas fronteiras. Uma fronteira é uma linha que divide territórios e até mesmo zonas morais. É conhecida, principalmente, por ser um limite político e separar grupos de pessoas, no entanto, geralmente, essas pessoas podem se movimentar livremente dentro das fronteiras de seus próprios territórios ou zonas, porém, para entrar em outro grupo precisa de uma certa “permissão” ou um certo conhecimento do mesmo e fazer uso disso para transitar. Lembrando que até mesmo grupos de pessoas têm sistemas políticos semelhantes ou acordos pré-negociados, suas fronteiras podem ser abertas e não defendidas. Tomando isso de forma literal e também metafórica, podemos destacar as identidades que se movimentam constantemente nas fronteiras. De modo geral, são móveis, flexíveis, subversivas, rebeldes, corajosas, capazes de movimentar a hierarquia dos modelos masculinos, a qual luta para se manter imóvel. Nesse grupo, não há um padrão único, há, na verdade, um encontro, ampliando tipos, expressões e vivências. Tem um pouco de masculino e de não masculino, de feminino e de não feminino e outras possibilidades de ser, participar e expressar.

    Quero terminar este artigo lembrando que vou dar uma sequência para esse assunto que se desdobrará em outras publicações deste blog, pois neles irei abordar outras questões relacionadas a identidades gays, portanto, não vou concluir por aqui, aliás nem que eu quisesse esse assunto não se conclui.


Indicação de leitura

Narrativas pessoais: a masculinidade hétero nas vivências do homem gay

autor: Thiago Saveda Severino

O presente estudo buscou apreender a influência e o impacto da ideia de masculinidade hegemônica na vivência e identidade de homens gays. A pesquisa, qualitativa, contou como técnicas, com a coleta de relatos escritos de experiência pessoal; entrevista semiestruturada e utilização de imagens. Os participantes deste estudo foram 8 homens gays com idade entre 28 e 41 anos que se deslocaram de cidades do interior de estados brasileiros para a capital de São Paulo. No tocante aos resultados pode ser observado que a construção da identidade gay desses homens se dá a partir de um padrão hegemônico de masculinidade. Nesse processo, há uma constante negociação da visibilidade e invisibilidade de seus corpos, tendo como objetivo a construção de uma imagem de homem hétero. Verificou-se entre os entrevistados, vivências comuns de contextos marcados por ações masculinizantes, implícitas e explícitas, coordenadas por setores diversos da sociedade, dentre os quais, o ambiente escolar e a esfera doméstica. Do mesmo modo, a violência, sempre presente na memória, como forma de orientar e supervisionar as suas experiências de vida; o trânsito do corpo como uma passagem de reconhecimento de si e para a liberdade; o toque sendo descrito como um elemento importante no desenvolvimento do afeto e na descoberta do corpo de si e do outro. Por fim, o afeto entre homens é revelado como um elemento sob o controle da sociedade, sendo autorizado ou não, assim como o desejo, o qual, por um lado, é compreendido como via de prazer, por outro, é visto como algo proibido pela sociedade. É possível concluir do estudo que os homens entrevistados se apropriam de comportamentos que expressam aspectos marcantes da masculinidade hegemônica. No corpo é circunscrito os signos da masculinidade e pelo corpo eles demarcam e revelam sinais relacionados à masculinidade: virilidade, potência sexual, força, rigidez. Corpos musculosos, joviais e com pelos suportam os aspectos simbólicos intrínsecos e necessários para mantê-los passáveis como héteros, garantindo-lhes alguns dos privilégios dados aos homens heterossexuais que ocupam o alto topo da hierarquia no tocante ao modelo de masculinidade. Para tanto, há uma constante produção de uma masculinidade cuja baliza tem como medida a heterossexualidade, considerada por eles como um fato natural. Observa-se entre os participantes que as masculinidades que mais legitimam são, portanto, aquelas heterocentradas.
Link para acesso, clique aqui.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Autoria, Sujeito, Identidade, Discursividade na Jornada do Escritor

    Eu iniciei no final do ano de 2023, meu novo projeto artístico-literário, intitulado O Escritor. Quero criar uma obra autoral única e, por isso, como reconheço minhas limitações para tanto, iniciei também uma jornada de aquisição de competências, habilidades e conhecimento para alcançar esse objetivo. Estou chamando-a de A Jornada do Escritor cujo propósito é, por meio de um processo de estudo e experimentação, abordando tanto a teoria quanto a prática artística, construir um outro trabalho paralelamente à produção da obra O Escritor.

    Esta semana compreendida entre os dias 8 e 12 de janeiro, me dediquei a estudar as bases do meu trabalho, retomando conhecimentos e buscando novos, além de pôr em prática o que ando vendo na teoria. O resultado disso até agora foi a produção de uma parte do prefácio da obra A Jornada do Escritor.

    Quero aqui compartilhar em resumo o que tenho produzido até o momento.

    Na seção sobre o Autor-Sujeito, o meu texto explora as ideias de Lacan e Foucault. Destaco que o sujeito não é uma entidade unitária e estável, mas é construído por relações sociais, linguagem e simbolismo. A linguagem desempenha um papel crucial na formação do sujeito, sendo moldado pela inserção no domínio simbólico.

    Foucault, por sua vez, rejeita a ideia de um sujeito unificado, enfatizando as relações de poder na formação da identidade. Ele introduz o conceito de "dispositivos", que incluem práticas discursivas, instituições e formas de conhecimento que regulam o sujeito.

A seguir, o meu texto destaca a interseção entre Lacan e Foucault na reflexão sobre a autoria. Argumento, com base nos autores, que a autoria é um ato político, enraizado nas relações de poder e nas estruturas simbólicas.

    Na seção "Entre o Real, o Imaginário e o Simbólico" exploro a complexidade da subjetividade, utilizando as contribuições de Lacan para descrever os registros do Real, Imaginário e Simbólico. Destaco que a capacidade de narrar e articular a experiência é fundamental para a formação do sujeito, mediada pela linguagem.

    O texto prossegue com a análise da relação entre autoria, saber e poder, utilizando as perspectivas de Foucault. Com a ajuda do autor, destaco a descentralização do sujeito e a importância das relações de poder na formação do sujeito como autor. Foucault me auxilia no exame das práticas discursivas em torno da sexualidade, constato que elas contribuem para a construção e regulamentação do sujeito.

    Na seção final, proponho entrelaçar as perspectivas de Lacan e Foucault para ampliar a compreensão do Autor-Sujeito. Argumento que a autoria não é apenas um ato de expressão criativa, mas também uma posição que o sujeito assume em relação a si mesmo, aos outros e à sociedade. Destaco que a autoria é um processo dinâmico de desconstrução e reconstrução, influenciado pelas experiências e pelas relações sociais.

    Eu apresento o reconhecimento de si, do autor e das instituições sociais como um aspecto crucial da autoria. Nesse sentido, o texto explora como o sujeito, ao se tornar autor, está envolvido em um processo complexo de reconhecimento que abrange a compreensão de si mesmo, a aceitação do papel de autor e a influência das instituições sociais na construção da narrativa pessoal.

    Termino discutindo autoria, subjetividade e discursividade como elementos interligados. Constato que o reconhecimento do eu, a aceitação da posição de autor e a consciência das influências sociais contribuem para a construção de uma discursividade pessoal. Concluo destacando a importância de compreender a interação desses elementos na formação da identidade individual.

É isso! Logo, trago mais atualizações sobre o meu trabalho.

Identidades em construção e a subversão da lógica binária

    Até aqui eu explorei o problema do lugar de fala e antecipei uma noção geral sobre o conceito de gênero, tópicos importantíssimos para compreender este trabalho. Agora a minha intenção é ampliar a concepção do que é identidade, nesse rumo, eu penso que a primeira coisa a se fazer, quando esse é o assunto, é problematizar o senso comum a respeito do tema em pauta para desconstruí-lo. Desse modo, aí sim, podemos encaminhar um debate responsável sobre a questão em abordagem nesta parte. O segundo passo é ir por um caminho mais complicado, no entanto, esclarecedor, compreender como a lógica binária se relacionada com a construção das identidades.

    A noção comum que circula sobre identidade é que ela é única, imutável, que é uma entidade colocada em nós em um determinado momento, o qual não sabemos qual é, que perdura para toda a nossa vida, que existe uma essência em nós.

    Aí está o problema: basta olharmos com atenção para a nossa história, assim, descobriremos que não há essência, descobriremos que mudamos muito nesses anos que se passaram, que estamos continuamente em construção. Somos construídos em relação ao outro e em relação ao mundo, logo, não há uma essência e enquanto houver história de vida, haverá identidades em construção.

    Para ilustrar, vamos fazer um exercício bastante simples. Pare um instante e relembre os teus 10 anos de idade. Se esforce para lembrar bem quem você foi. Fez isso?

    Com este exercício, perceba:

  1. Existe uma grande dificuldade de você se lembrar exatamente quem você foi, porque aquela criança já não existe mais;
  2. O que ficou marcado em você foram as lembranças fantasiosas sobre si mesmo;
  3. A saudade, a nostalgia mostram o quanto você já não é mais aquela criança.

    E isso de forma alguma deve te assustar. Isso só prova algo incrível da vida: a efemeridade do tempo e a metamorfose do ego (eu/self).

    Stuart Hall, uma autoridade nesse tema, diz que se sentimos que temos uma identidade unificada desde o nascimento até a morte, é, simplesmente, porque construímos uma história confortável sobre nós mesmos ou uma "autonarrativa" reconfortante. Para ele, a identidade totalmente reconhecível, completa, segura e consistente é uma ilusão.

    Hall diz ainda que as identidades (pós)modernas estão sendo “descentradas”, isto é, deslocadas ou fragmentadas.

    A partir dos seus estudos, ele mostra que, desde o final do século 20, ocorre uma modificação estrutural que está transformando a sociedade (pós)moderna e o resultado disso é a divisão do cenário cultural de classe, gênero, sexualidade, etnia, raça e nacionalidade, que no passado nos possibilitou uma posição menos variada como indivíduos na sociedade. Essas alterações também impactam nossas identidades pessoais, desestabilizando a nossa noção de nós mesmos como um sujeito completo. Essa perda de estabilidade de um "sentido de si", às vezes, é chamada de deslocamento ou descentração do sujeito.

    Hall ainda afirma que esse processo produz o sujeito (pós)moderno, o qual não tem uma identidade fixa, essencial ou permanente. A identidade se torna uma "celebração móvel": ela é constantemente formada e transformada em torno de como nos comportamos ou nos desafiamos no sistema cultural ao nosso redor. É definida historicamente e não biologicamente.

    Diante disso, chegamos à conclusão de que existem identidades contraditórias dentro de nós, movendo-se em direções diferentes, de modo que nossas identificações estão em deslocamento constante, pois, com o desenvolvimento de novas referências e outras representações culturais, nos deparamos com identidades possíveis e variadas e podemos, pelo menos temporariamente, nos identificar com cada uma delas.

    Outro aspecto importante a se refletir dentro desse assunto é a presença constante da lógica binária em nosso dia a dia. Preste atenção e perceba que somos, frequentemente, conduzidos a uma única possibilidade que é dupla: ou você é isto ou é aquilo.

    Funciona assim: quando nascemos alguém olha a nossa genitália (geralmente o médico) e determina: é homem ou mulher, determinando aí uma infinidade de outras características identitárias, todavia se esquece de levar em consideração que ainda não se construiu essa extensa história de vida que certamente mudará essa compreensão sobre aquele corpo que nasceu, porque o gênero e a sexualidade são partes da identidade e não toda ela.

    Por causa disso, somos forçados a aprender a ser homem e ser mulher dentro de um sistema sociocultural comumente binário, exemplo, mulheres usam saias, homens, não. Mulheres são emotivas, homens, jamais. Homens são fortes, mulheres, sensíveis. E nessa lógica, um não pode ser o outro, pois, masculino não se confunde com o feminino e vice-versa, no entanto, nos esquecemos que no espaço existente entre o ser homem e o ser mulher, há inúmeras outras formas de existir, podemos ser várias coisas ao mesmo tempo e deixar de ser. Vale ressaltar que se esse padrão binário é ensinado e aprendido, pode, então, ser desaprendido, debatido ou ressignificado de acordo com a singularidade de cada indivíduo, principalmente, quando esse padrão sustenta ou produz opressão, marginalização ou violências.

    Por fim, nós somos identidades em construção, enquanto houver história, seremos construídos em relação ao outro e ao mundo, dentro de um contexto social e cultural de regras, costumes, crenças, valores, ética, moral, concepções de vida tão distintas quanto a quantidade de gente no mundo atual e futuro, por isso se faz necessário subverter a lógica binária que aí está posta.


Indicação de filme sobre o tema:

A garota dinamarquesa

É um filme teuto-belgo-nipo-dano-britano-estadunidense de 2015, dos gêneros drama biográfico e ficção histórica, dirigido por Tom Hooper, com roteiro de Lucinda Coxon baseado no romance The Danish Girl, de David Ebershoff e inspirado na vida das pintoras dinamarquesas Lili Elbe e Gerda Wegener.

O filme é protagonizado pelo ator Eddie Redmayne, que interpreta a personagem Lili Elbe, a qual, na vida real, foi uma das primeiras pessoas transgênero a se submeter a uma cirurgia de redesignação sexual. Outra estrela do filme é a atriz Alicia Vikander como Gerda Wegener.

Fonte: Wikipedia.

Os vencedores do Oscar® Eddie RedMayne e Alicia Vikander estrelam essa marcante história de amor inspirada por fatos reais, dirigidos pelo também vencedor do Oscar® Tom Hooper. Quando Gerda (Vikander) pede ao seu marido Einar Wegener (RedMayne) que trabalhe como modelo, os seus sentimentos por muito tempo reprimidos emergem e ele assume sua personalidade feminina. Embarcando numa jornada para se tornar a mulher que ele tanto deseja ser, Lili Elbe que só é possível por conta do amor incondicional de Gerda. (Título Original - The Danish Girl) - 2015 Focus Features. All Rights Reserved

Fonte: play.google.com


quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Quem tem direito a falar sobre identidade de gênero?

    Muitos assuntos importantes geram polêmicas quando trazidos para o debate público. Eu acho isso muito bom, pois, é nesse momento que as pessoas tomam parte da discussão, construindo, assim, um entendimento comum. É um excelente exercício de cidadania, além de valorizar o diálogo como princípio democrático.

    A pauta a respeito de identidade de gênero é frequente hoje em dia em muitas rodas de conversas entre amigos, nas salas de aulas, na mídia de massa, nas redes sociais e, claro, gerando polêmica, concordâncias e discordâncias. Esse é o movimento esperado do debate público. É comum observar também grupos de pessoas reivindicando, em seus discursos, a propriedade única e exclusiva dessa pauta, alegando inúmeras justificativas, porém, vou destacar aqui que a pauta a respeito de identidade de gênero pertence a todas as pessoas ou instituições, porque, cada pessoa, ao longo de sua vida, vai construindo a sua identidade, não só a de gênero, como qualquer outra identidade, além disso, essas pessoas se agrupam e se encontram em organizações com diferentes papeis sociais.
    Enfim, a identidade de gênero diz respeito a uma das faces de nossas muitas identidades. Ela é construída ao longo da nossa vida e assume formas variadas conforme nosso contexto social e cultural, portanto qualquer pessoa pode e deve tomar parte das discussões em torno das identidades de gênero.

Antes de avançar, vamos falar um pouquinho sobre gênero?

    De antemão, quero pedir desculpas se meu discurso ficar meio academizado. Para me ajudar a abordar o tema gênero, vou recorrer, principalmente, a obra “Gênero – uma perspectiva global – compreendendo o gênero – da esfera pessoal à política – no mundo contemporâneo” das pesquisadoras Raewyn Connell e Rebecca Pearse. Na obra, elas afirmam que existe um empenho social para orientar o comportamento das pessoas, havendo ideias a respeito de comportamentos apropriados a cada gênero circulando reiteradamente pelas posturas de inúmeros tipos de indivíduos.

    As autoras afirmam que “ser homem ou uma mulher, então, não é um estado predeterminado. É um tornar-se; é uma condição ativamente em construção. [...] esse processo é frequentemente debatido como o desenvolvimento da ‘identidade de gênero’”. Apesar de afirmarem que o termo “identidade de gênero” é problemático para elas, a adoção do mesmo serve para facilitar a reflexão sobre essa categoria. Para as autoras, nossas ideias a respeito desse pertencimento e seu significado, que tipo de pessoa somos, como resultado de sermos mulher ou homem, está inserido na identidade. Elas ressalvam que essas ideias não são propostas para nós, quando somos ainda bebês, como um conjunto fechado de itens para o nosso desenvolvimento no início da vida. Não se sabe, assim, em que momento rigorosamente se desenvolvem e, ao longo da trajetória de nossa formação essas ideias vão sendo desenhadas.

    De acordo com as autoras, em alguns momentos, a construção da “identidade de gênero” tem como produto um padrão intermediário, uma mistura, um contraste nítido, para os quais denominamos estranho, queer, afeminado, afetado, transgênero: homens femininos e mulheres masculinas; mulheres atraídas afetivo-amorosamente por outras mulheres e homens, por outros homens.

    Ainda, conforme as autoras, o prazer, o reconhecimento e a identidade tem origem nas relações de gênero e, ao mesmo tempo, tem também origem nas injustiças e hostilidade. Isso quer dizer que o gênero é uma categoria intimamente política que se constitui em um espaço de disputa. A desigualdade e a opressão, no campo do gênero, têm levado movimentos sociais a lutar por reformas em todos os segmentos da sociedade: educação, mídia de massa, mercado de trabalho, gestão pública, legislação, direitos reprodutivos, direitos humanos etc.

    Outra questão importante a se considerar aqui é o destaque que se dá a oposição do gênero existente em grande parte dos debates na sociedade que partem de uma divisão biológica entre homens e mulheres, definindo gênero como desconcertos sociais ou psicológicos que coincidem a essa divisão, sendo compostas sobre ela ou causadas por ela.

    Conforme as autoras, “em seu uso mais comum, então, o termo ‘gênero’ significa a diferença cultural entre mulheres e homens, baseada na divisão entre fêmeas e machos. A dicotomia e a diferença são a substância dessa ideia”. Para superar esses impasses, a solução é enfocar as relações e não as diferenças, pois, acima de tudo, gênero é uma questão das relações sociais que incorporam indivíduos e grupos.

    Connell e Pearse afirmam que o gênero deve ser entendido como uma estrutura social, uma vez que a revisão de padrões profusamente disseminado entre relações sociais é chamada pela teoria social de “estrutura”. Não é uma expressão da área biológica, tampouco uma dicotomia inalterável na vida ou da índole humana. É um modelo em nossos ajustes socais a partir do qual as práticas do dia a dia são ordenadas.

    De modo informal, elas dizem que gênero é relativo à maneira com que as sociedades humanas encaram os corpos humanos e o seu encadeamento e como enfrentam a repercussão desse “encarar” para nossas vidas pessoais e nosso destino coletivo.

Preciso de ter lugar de fala para me posicionar sobre algo?

    A resposta é óbvia, não, mas, calma lá, precisamos refletir um pouco mais sobre o que é a atitude de falar sobre pautas socialmente relevantes. Para começar, quero trazer aqui uma frase de Djamila Ribeiro, filósofa, feminista negra e escritora: “o lugar social não determina uma consciência discursiva sobre esse lugar. Porém, o lugar que ocupamos socialmente nos faz ter experiências distintas e outras perspectivas”, esta frase faz parte do seu livro O que é lugar de fala? lançado em 2017, ou seja, não é porque uma pessoa é gay que ela sabe tudo sobre ser gay, porém, certamente, suas experiências trazem outros pontos de vista sobre o assunto.

    Muitas vezes não enxergamos a realidade que há por trás de certas situações, por exemplo, quando falamos sobre gênero, às vezes nos escapa a compreensão do todo e do particular. Já ouvi inúmeras vezes que eu, Thiago Saveda, falo como um homem gay do alto do meu privilégio de estar dentro do padrão imposto para homens - não afeminado, branco, cis. Isso seria um desqualificador no sentido que eu não teria propriedade para abordar pautas sobre gênero já que não sou alvo, preferencial, da opressão dos gêneros. É um grande equívoco pensar dessa maneira. Até porque as violências acontecem de todas as formas, em todos os tempos, sobre todos os corpos, além do mais, cada um sabe o tamanho da sua dor e como ela dói.

    Vou eu falar da minha vida de novo. Quando eu era criança, eu era olhado pelos outros como o “esquisito”, até minha mãe falava isto. Eu não entendia muito bem, no entanto já sabia que existia aí uma diferenciação importante. Até que de esquisito comecei a escutar “bichinha”, “viadinho”. E foi evoluindo à medida que eu ia crescendo. Enfim, fui acusado de ser gay a minha adolescência inteira, sem mesmo saber o que isso significava, mas, uma coisa eu sabia, que isso estava relacionado aos xingamentos e à exclusão diária na escola, na rua onde morava e até dentro de casa, meu irmão era o meu principal agressor. Vez ou outra a agressão também era física. A minha dor maior era, com certeza, não ter amigos, coisa que sempre achei incrível. Eu sempre achei a amizade uma coisa muito linda!

    Eu não sabia, porém um dia uma amiga de infância – a única que eu tinha de fato – me olhou e, sinceramente, me disse, “você não percebe que você parece uma menina, seu jeito de andar, falar, de se comportar é de uma menina”. Aí fui entender o grande problema da minha vida: para todos os outros, eu parecia com o feminino.

    Bom, retomando, todas essas violências se tornaram marcas que carreguei sangrando por muito tempo e que hoje ainda carrego, porém cicatrizadas, de vez em quando, alguém cutuca e sangra. O que eu quero dizer com essa parte da história da minha vida? Quero dizer para as pessoas que me olham, me julgam e me querem tirar o direito de falar sobre gênero que vocês não vão me tirar esse direito nem que esperneiem, gritem. Tenho direito sobre a pauta como todas as pessoas que, indelevelmente, constroem, ao longo da sua vida, a sua identidade de gênero. Minhas poesias, minhas narrativas, meus artigos, meus trabalhos artísticos e acadêmicos são e serão sobre gênero e ninguém vai mudar isso.

    Bem, para encerrar, quero destacar um coisa importante, gênero faz parte de uma arena social de disputa, logo, temos que constantemente, nos confrontos discursivos, negociar a pauta indiferentemente se quem fala é branco, preto, pardo, homem, mulher, LGTBQIA+ ou não, colocando para todas, todes e todos o nosso ponto de vista elaborado em cima de nossas vivências, nossos estudos, leituras, de forma honesta e empática.


Indicação de livro sobre o tema:

Gênero em Termos Reais

Raewyn Connell (Autora), Marília Moschkovich (Tradutora)

Gênero em termos reais apresenta novos conceitos e uma nova pesquisa sobre as questões de gênero no cotidiano, na política e numa escala mundial. O livro começa com questões sobre as desigualdades globais: a ideia de colonialidade de gênero e a questão da deficiência do ponto de vista do Sul Global. Em seguida, descreve como tentativas de reforma de gênero por meio do Estado foram bem-sucedidas, contudo também sofreram resistência. Gênero em termos reais, então, se volta para questões sobre a masculinidade e sobre os homens, assim como leva em consideração as políticas da masculinidade e a reforma de gênero Internacionalmente, e discute a importância das perspectivas do Sul Global. Esta obra apresenta um estudo de caso sobre empresários no poderoso setor financeiro da economia, e aborda o caminho pelo qual a masculinidade se estrutura, enquanto os garotos estão em processo de crescimento. Finalmente, Gênero em termos reais leva em consideração as vidas e as colocações das mulheres transexuais. A história de uma vida, embasada em uma fantástica entrevista, é relatada com detalhes. As dificuldades das mulheres transexuais com relação à psiquiatria são analisadas; deste ponto, o livro retorna para a política igualmente conturbada das relações entre feminismo e mulheres transexuais.
Fonte: Amazon.com.br

sexta-feira, 5 de janeiro de 2024

Tempo de destruição

É um tempo artístico-fictício cujo objetivo é me fazer romper com o antes, deixando para o passado minhas perspectivas, estilo e recursos anteriores a este momento.


Desejo a partir de agora assumir a identidade artística e fictícia que denomino "o escritor", assim iniciar um novo e inovador projeto artístico-literário, o qual está em conformidade com o meu projeto de vida.

[(Você já parou pra pensar no valor do espaço vazio?)]
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Um espaço vazio é uma oportunidade. Aproveite-o!
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#poema #poesia #poeta #literaturabrasileira #literatura #escritor #livros #leitura

O espaço vazio

O espaço vazio pode ser branco, preto, verde, amarelo... pode ser uma parede, um pedaço de terra, uma tela, um mural, pode ser uma janela...


Pode ser a pele da gente, pode ser uma brecha na mente, pode ser um coração vazio...

O espaço vazio pode ser a gente!

A destruição

 

Ensaio de manifesto artístico-fictício de criação literária

Eu sinto que chegou o momento, momento este imprescindível, necessário, natural de todo percurso de criação.

É o tempo da destruição!

Toda e qualquer destruição se faz sobre aquilo que passou por um processo complexo de construção, no entanto, não podemos nos esquecer que só se constrói com base na matéria-prima e recursos existentes, conhecidos e apreendidos ao longo desse processo, caso contrário, ausência se faz presença e, mesmo assim, constitui a construção, porém, como espaço vazio.

Essas lacunas continuarão a existir, se aquilo que foi construído persistir construído, inalterado ou adaptado, até que não servirá mais, não terá mais propósito, não fará mais sentido. Aí, então, o sentido é a destruição. Você destrói eliminando tudo o que foi feito e o não feito, todavia, uma coisa persiste, a possibilidade de fazer de novo, com uma diferença, agora há um novo repertório, novas referências, novo olhar, novas ferramentas, outros saberes, então, é possível uma nova construção - ou reconstrução, isso pouco importa - porque o resultado não é o mesmo, não se repete, não é exatamente igual. É novo em algo!

É bom lembrar que, mesmo assim, com a mudança dos tempos, muda-se tudo novamente e novos vazios aparecem. Isso é movimento. Isso é anima, do grego anemos “vento” ou “ar”, do latim, “alma” ou “princípio vital”. Devemos ter apreço por ele. Ele nos faz animadamente vivos.