Nietzsche proclamou a morte de Deus há mais de um século, argumentando que a crença na divindade estava se desvanecendo gradualmente da consciência humana, para mim, eu vejo que as religiões tomaram o lugar da crença em um ser supremo e, assim, hoje, exercem um controle impressionante sobre as vidas e as mentes de milhões de pessoas ao redor do mundo. Será que essa influência é genuinamente divina ou simplesmente uma usurpação dos verdadeiros ensinamentos espirituais em prol de dogmas e poder?
Nas últimas décadas, vimos um ressurgimento de fervor religioso em várias partes do mundo, muitas vezes acompanhado de um aumento na influência política das instituições religiosas. Países onde a separação entre Igreja e Estado é defendida vigorosamente frequentemente se encontram debatendo questões morais e legislativas influenciadas por preceitos religiosos. Isso levanta uma questão crucial: até que ponto as religiões governam a Terra?
O poder das religiões não reside apenas na fé e na espiritualidade, mas também na capacidade de moldar a moralidade e a conduta social. Muitas leis e políticas são diretamente influenciadas pelos valores religiosos, mesmo em sociedades que afirmam ser laicas. O debate sobre questões como aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo e educação sexual nas escolas frequentemente se desenrola sob a sombra das crenças religiosas dominantes.
Ao longo da história, vimos inúmeros massacres cometidos em nome da religião. Guerras santas, cruzadas, jihad e inquisições são apenas alguns exemplos de como as instituições religiosas foram utilizadas como justificativa para atrocidades. Sabendo disso, é crucial fazer uma distinção entre religião e Deus. Muitas vezes, os líderes religiosos e seus seguidores se afastam dos ensinamentos amorosos e compassivos de suas fé e se entregam à ganância, ao poder e à intolerância.
Vale destacar que, embora as diferentes tradições religiosas possam ter abordagens distintas para descrever e compreender Deus, existem certos elementos comuns que transcenderam fronteiras culturais, históricas e geográficas: Deus é o amor e a compaixão. Ele é frequentemente descrito como uma entidade benevolente que se preocupa com a humanidade e está disposta a perdoar e acolher aqueles que buscam uma relação com Ele. Essa noção de um Deus amoroso e compassivo é central em muitas religiões, inspirando os crentes a cultivarem virtudes como a bondade e a misericórdia.
Lamentavelmente, na atualidade, vemos opressões religiosas direcionadas a grupos marginalizados, como pessoas LGBT e praticantes de religiões afro-brasileiras. Em nome de interpretações fundamentalistas dos textos sagrados, essas comunidades são alvo de discriminação, violência e até mesmo legislações discriminatórias. Essa intolerância não é uma manifestação de Deus, é sim uma distorção da fé, alimentada por preconceitos arraigados e falta de compreensão.
Além disso, questões relacionadas ao controle do corpo da mulher também são frequentemente justificadas pela religião. O debate sobre o aborto, por exemplo, é muitas vezes conduzido sob a égide de dogmas religiosos, ignorando a autonomia e os direitos reprodutivos das mulheres. Da mesma forma, o julgamento moral da vestimenta feminina, o estupro, o assédio e a submissão são perpetuados por segmentos religiosos que pregam uma visão patriarcal do mundo, onde a mulher é vista como inferior e subserviente ao homem.
Essas injustiças não são um reflexo da vontade divina, mas sim do poder corruptor das instituições religiosas quando se desviam dos princípios de amor, compaixão e justiça que supostamente representam. A verdadeira espiritualidade não busca controlar ou oprimir, busca, acima de tudo, libertar e capacitar os indivíduos a viverem vidas plenas e autênticas.
É uma tendência lamentável e perigosa quando os seres humanos presumem que podem impor sua própria vontade sobre Deus. Essa arrogância é muitas vezes manifestada de várias maneiras, desde a interpretação seletiva das escrituras sagradas até a tentativa de usar a religião como justificativa para agendas pessoais ou políticas.
Quando os indivíduos se permitem moldar Deus à sua própria imagem e semelhança, estão desvirtuando a essência da espiritualidade e da busca pela verdade divina. Em vez de se submeterem humildemente à vontade de um ser supremo, estão tentando cooptar a divindade para servir aos seus próprios interesses e desejos.
Essa presunção da vontade humana sobre Deus é evidente em várias manifestações ao longo da história e em diferentes contextos religiosos. Por exemplo, líderes religiosos muitas vezes afirmam falar em nome de Deus, promulgando doutrinas e exigindo obediência cega dos seguidores. No entanto, essa autoridade autoatribuída muitas vezes serve para consolidar o poder e controlar as massas, em vez de promover uma compreensão genuína da vontade divina.
Além disso, vemos a presunção da vontade humana sobre Deus nas interpretações seletivas das escrituras sagradas, onde trechos são distorcidos ou manipulados para justificar preconceitos, discriminação e violência. Isso não apenas deturpa a mensagem original das tradições religiosas, como cria divisões e conflitos entre comunidades.
É importante lembrar que Deus, como concebido em muitas tradições espirituais, transcende a compreensão humana e não pode ser limitado pelos caprichos e desejos individuais. Ele não está sujeito à vontade humana, mas sim à justiça e à misericórdia divinas. Sendo assim, é crucial que os seres humanos cultivem uma humildade sincera em sua busca espiritual, reconhecendo sua posição como criaturas finitas diante do infinito mistério de Deus.
Diante disso tudo, eu insisto que é essencial manter uma visão crítica sobre o papel das religiões na sociedade. O poder das instituições religiosas pode facilmente ser abusado em detrimento dos direitos individuais e da liberdade de pensamento. Dogmas inflexíveis podem impedir o progresso social e científico, enquanto líderes religiosos corruptos podem explorar a fé de seus seguidores para ganho pessoal.
Então, o que podemos concluir sobre a afirmação de que Deus está morto e quem governa a Terra são as religiões? É uma declaração provocadora que convida à reflexão. Embora a morte de Deus possa ser interpretada como a perda de relevância da divindade na vida cotidiana de muitos, as religiões ainda exercem um poder considerável sobre os assuntos humanos. Percebendo nisso, devemos ser vigilantes e críticos em relação a esse poder, garantindo que ele seja usado para promover o bem comum e respeitar os direitos e liberdades individuais.
Por fim, é necessário que questionemos não apenas a existência de Deus, como também o papel e a influência das religiões em nossa sociedade. Devemos nos esforçar para separar os ensinamentos espirituais genuínos da manipulação e do controle institucionalizado. Somente então poderemos verdadeiramente avançar em direção a uma sociedade mais justa, inclusiva e compassiva, onde cada indivíduo seja livre para buscar sua própria conexão com o divino, livre de opressão e preconceito.
Mas, por enquanto, afirmo com certeza:
Deus está morto! Encare esse fato.