A democracia, como forma de governo que busca garantir os direitos individuais, a liberdade de expressão e a participação política, exige constante vigilância e defesa. Em um cenário global de crescente polarização, avanços tecnológicos e novos formatos de comunicação, surgem ameaças modernas que colocam em risco as bases democráticas. Dentre essas ameaças, destacam-se as fake news, o fortalecimento de discursos autoritários e a polarização social. Proteger a democracia nunca foi tão urgente, por isso, este artigo busca refletir sobre essas ameaças e apontar o papel essencial da mídia, dos movimentos sociais e da resiliência democrática, com uma perspectiva brasileira.
Ameaças modernas: fake news, polarização e autoritarismo
Nos últimos anos, a disseminação de fake news (notícias falsas) tem se consolidado como uma das maiores ameaças à democracia. As redes sociais, ao fornecerem plataformas para a disseminação rápida e em larga escala de informações, têm sido usadas para manipular a opinião pública e, muitas vezes, para desinformar e enganar os cidadãos. Segundo o sociólogo e filósofo brasileiro Sérgio Buarque de Holanda, em sua obra Raízes do Brasil, a construção de um “imaginário coletivo” pode ser facilmente manipulada por discursos que se apropriam de informações distorcidas para legitimar projetos autoritários. A desinformação ameaça o debate público e enfraquece a confiança nas instituições democráticas.
Além disso, a polarização política tem se intensificado, criando uma divisão profunda entre diferentes segmentos da sociedade. A filósofa Marilena Chaui, uma das principais intelectuais brasileiras, alerta para o perigo de uma “sociedade dividida” que perde a capacidade de diálogo e convivência pacífica. A polarização tem sido amplificada por discursos radicais e pela falta de mediação eficaz entre diferentes posições ideológicas, o que favorece a ascensão de líderes autoritários que se utilizam do medo e da intolerância para conquistar poder.
O autoritarismo, portanto, surge como uma das maiores ameaças contemporâneas à democracia, quando políticos e grupos sociais propõem modelos de governança que centralizam o poder, enfraquecem o sistema de divisão de poderes (no Brasil, executivo, legislativo e judiciário) e limitam as liberdades individuais.
O papel da imprensa e da mídia na proteção democrática
Em tempos de crises e ameaças à democracia, a imprensa e a mídia desempenham um papel crucial na proteção e preservação dos valores democráticos. A liberdade de imprensa garante o direito à informação e serve como fiscalizadora das ações dos governantes. Para o jornalista e escritor brasileiro, Fernando Morais, a imprensa livre e independente é o pilar da democracia, pois oferece ao cidadão os meios para tomar decisões informadas e para questionar o poder.
Contudo, a mídia também precisa assumir uma responsabilidade ética, combatendo a desinformação e promovendo um jornalismo de qualidade que favoreça o debate construtivo e não a polarização. O filósofo brasileiro, José Arthur Giannotti, discute a importância da formação de um público crítico e da necessidade de se preservar a liberdade de imprensa como parte fundamental da construção de uma esfera pública plural.
Nos tempos digitais, as plataformas de redes sociais também se tornaram essenciais para o exercício da liberdade de expressão e para a organização de movimentos sociais. No entanto, as mesmas plataformas que favorecem a liberdade também oferecem o terreno fértil para a disseminação de desinformação, discursos de ódio e ataques à democracia.
Movimentos sociais e a defesa das instituições democráticas
A defesa das instituições democráticas é, sem dúvida, um dos maiores desafios em tempos de crise. Nesse contexto, os movimentos sociais têm se mostrado fundamentais na manutenção do processo democrático. No Brasil, a história dos movimentos sociais, desde as mobilizações pelas Diretas Já até os recentes protestos em defesa da educação e da saúde, demonstram como a sociedade civil pode se mobilizar para proteger as instituições democráticas.
A filósofa e ativista brasileira, Marilena Chaui, destaca a importância da ação coletiva e da construção de um espaço público democrático, no qual os cidadãos possam reivindicar seus direitos e lutar por justiça social. Movimentos como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento Negro e outros têm se destacado pela defesa da democracia e da justiça social, ao mesmo tempo em que enfrentam a resistência do autoritarismo e das elites políticas.
Esses movimentos também servem como resistência aos discursos de ódio, à violência política e ao retrocesso dos direitos humanos. A educação, como espaço de conscientização e mobilização, também ocupa um papel central nesse processo, sendo fundamental para formar cidadãos críticos e comprometidos com os valores democráticos.
Democracia em tempos de crise: resiliência e adaptação
A democracia, como qualquer sistema político, não é imune a crises, porém, sua resiliência pode ser preservada se houver uma adaptação inteligente e solidária aos novos tempos. Em períodos de crise, como a pandemia de COVID-19, a democracia precisou se adaptar a novas formas de participação, como o voto eletrônico e as manifestações virtuais.
O sociólogo brasileiro, Boaventura de Sousa Santos, propõe a ideia de “democracia de proximidade”, na qual as instituições democráticas devem se aproximar dos cidadãos, utilizando as novas tecnologias e meios de comunicação para fortalecer a participação popular e a inclusão social. Santos sugere que, em tempos de crise, a democracia deve ser moldada de maneira mais flexível e adaptativa, a fim de garantir sua sobrevivência e fortalecer a confiança nas instituições.
Por fim, proteger a democracia é uma tarefa constante e desafiadora. As ameaças modernas, como as fake news, a polarização e o autoritarismo, exigem uma resposta ativa de todos os cidadãos e das instituições. A mídia, os movimentos sociais e a resiliência democrática são essenciais para garantir a continuidade de um sistema democrático, justo e plural. Como defende o sociólogo Roberto DaMatta, “a democracia não é um dado adquirido, é uma conquista permanente”, e, por isso, todos devem se empenhar na sua defesa e fortalecimento. A democracia brasileira, com todos os seus desafios, continua sendo um projeto inacabado, mas plenamente possível de ser defendido e expandido, desde que se mantenham vivos os valores da justiça, da liberdade e da solidariedade.
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